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O Filho de Eneias



Quinta-feira, 28.11.13

O início da minha perambulação por terras raskolnikovianas

Fyodor Dostoievsky

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por João Pinto Bastos às 00:56

Quinta-feira, 21.11.13

A sátira das engenharias lapucianas

 

Jonhatan Swift, As Viagens de Gulliver:

"Lord Munodio continuou, dizendo que, quanto a ele, que não era dotado de um espírito empreendedor, contentava-se em seguir fielmente as normas antigas, viver nas casas construídas pelos seus antepassados e agir como eles em todas as práticas da vida, sem inovações. Que várias outras pessoas da nobreza e burguesia tinham feito o mesmo, mas eram consideradas com um certo desprezo e má vontade, como inimigos da arte, ignorantes e maus cidadãos, preferindo as suas comodidades e ócios ao progresso geral do país.

  Sua Excelência acrescentou que não queria antecipar, com a sua entrada em pormenores, o prazer que eu havia de sentir ao visitar a grande academia, onde tencionava levar-me. Apenas me chamou a atenção para um edifício em ruínas perto da montanha, a três milhas de distância, a propósito do qual me contou que possuía em tempos um moinho muito aceitável, a meia milha de sua casa, movido pela corrente de um grande rio e que bastava a toda a sua família, assim como a um grande número dos seus rendeiros. Porém, há uns sete anos atrás, fora abordado por um grupo daqueles engenheiros, que lhe propuseram a destruição daquele moinho e a construção de um outro no sopé da montanha. Segundo o seu projecto, construir-se-ia um grande reservatório no cimo da mesma montanha, para onde a água seria facilmente conduzida por meio de bombas e canalizações. Essa água, agitada pelo vento e pelo ar no alto da montanha, armazenaria uma maior energia, que seria aumentada na sua descida pela encosta da montanha, indo fazer moer o moinho com metade do caudal de um rio cujo leito se encontra geralmente mais nivelado. Como sabia que na altura não estava nas boas graças da corte, e, ao mesmo tempo, instado por muitos dos seus amigos, acabara por aceitar o projecto. Porém, depois de ter ao serviço uma centena de operários durante dois anos, a obra falhou por completo e os engenheiros foram-se embora, lançando todas as culpas sobre ele e pondo-o a ridículo, enquanto ao mesmo tempo iam convencendo outros a tentarem a obra com as mesmas garantias de sucesso e igual desfecho desastroso."

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por João Pinto Bastos às 14:42

Quinta-feira, 14.11.13

Os labirintos da fé

Analisar um papado com tão poucos meses de duração é, por antonomásia, um exercício deveras arriscado. Com o Papa Francisco ao barulho, esse exercício torna-se ainda mais complicado pela simples razão de que o ex-cardeal de Buenos Aires é um personagem totalmente à parte do que é o comum dos homens públicos deste início de século. Aliás, se repassarmos a história conturbada dos últimos decénios deparar-nos-emos, certamente, com uma enorme dificuldade em vislumbrar personalidades que sobrepujem a pequenez tão característica destes tempos pós-moderninhos. O Papa Francisco oferece, a este título, uma ambiguidade suplementar, cuja destrinça não se afigura de todo uma tarefa fácil. Aquela que é para muitos a grande qualidade de Francisco, é, a meu ver, o seu grande defeito: refiro-me, pois claro, à overdose mediática que rodeia todos os gestos e ademanes do Papa, num grau que chega a raiar a exageração absoluta. Há quem entenda esta abertura à mundanidade como um gesto de tolerância para com as multidões ululantes dos tempos presentes. Esta opinião é defendida, sobretudo, por aqueles que desejam uma Igreja rendida às modas abastardadas de um tempo sem referências axiomáticas dignas desse nome. É certo que Francisco não fez, até ao momento, nenhuma inflexão significativa no que toca à essência medular do dogma católico, porém, esta mudança de tom e de abordagem poderá criar, a longo trecho, mudanças indesejáveis na estrutura de uma instituição tradicionalmente imune aos modismos deslumbrados dos cultores do progressismo ignaro. Neste sentido, creio vivamente que a aposta numa comunicação excessivamente "moderna" não augura nada de bom, porquanto o mediatismo exacerbado tem sempre, como reverso da medalha, a desilusão destemperada de quem genuinamente acreditou que era possível moldar a Igreja ao destrambelhamento contemporâneo. Mas seria um erro tremendo avaliar o actual papado, única e exclusivamente, sob este prisma, dado que há no Papa Francisco uma dimensão cuja relevância importa não descurar. Essa dimensão prende-se directamente com a origem jesuítica de Francisco. O jesuitismo tem aqui uma dupla manifestação, nomeadamente na atenção dada pelo Papa, nas suas comunicações públicas, aos condenados da terra, assim como ao igualitarismo, extraído do luteranismo catolicizado dos Jesuítas, presente no apostolado diário dirigido a um público fremente de renovação evangélica. O papado tem sido, neste curto espaço de tempo, positivamente marcado por esta mensagem prática, cujo fito incide, fundamentalmente, na acção e na práxis dos fiéis. Mais do que um intelectual à Bento XVI votado propositadamente à conversão da Cidade, Francisco é e será um Papa voltado para a acção e caridade diárias, vivenciadas no contacto apostólico com os fiéis. Não há, bem vistas as coisas, nada de negativo nesta opção, nem haveria, necessariamente, se a escolha tivesse incidido numa orientação intelectualmente mais contemplativa. Francisco sabe o que faz, e tem a perfeita consciência de que guia algo maior do que a própria vida. Resta ao próprio não se deixar tragar pela lógica mecanicamente pretensiosa da contemporaneidade. Alea jacta est.

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por João Pinto Bastos às 00:20

Segunda-feira, 11.11.13

As barreiras intransponíveis do Barreirinhas

A desmemória centenária

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por João Pinto Bastos às 00:22

Quinta-feira, 07.11.13

A iliteracia professoral

O tópico menos abordado da crise que, desde há alguns anos a esta parte, atemoriza o nosso querido Portugal é o abaixamento intelectual das gentes lusitanas. Esse abaixamento desdobra-se em múltiplas expressões, algumas delas bem preocupantes, mas há uma que, pela relevância que tem e pelo olvido deliberado a que tem sido sujeita, ganhou, a meu ver, foros de cidade. Falo, pois, do menoscabo a que os clássicos da literatura nacional (sobretudo na escola, o local em que é suposto transmitir avidamente os conhecimentos pretéritos às gerações vindouras) têm sofrido por banda daqueles que deveriam ser, natural e obrigatoriamente, os seus maiores apologistas. Ler como li, e ver como vi, que responsáveis da Associação de Professores de Português crêem que é um claro retrocesso voltar à leitura de Eça, Camões, Vieira, Pessoa, Herculano, Antero ou Garrett, faz-me pensar até que ponto o país regrediu vários degraus nos faróis da civilização. Este desconchavo cultural é o resultado mais paradigmático de décadas de facilitismo no ensino e na sociedade. Mais do que uma crise de valores e referências perdidas, o facilitismo dos nossos dias é um sintoma da degenerescência que o espectáculo niilista de uma sociedade luzidia e opulenta produziu no âmago de uma cidadania alienada. Hoje, não se lê, não se trabalha, e não se porfia afincadamente na prossecução de um objectivo plenamente consciencializado, em suma, nada vale a pena porque, ao arrepio do dito pessoano, a alma é muito pequena. Mas o que mais preocupa é a leviandade com que as ditas elites, ou, pelo menos, aquelas que passam por tais, descuram as minudências mais comezinhas de um arremedo de cultura. Encarar o ensino como um palco de fraca exigência e de leituras fáceis e rectilíneas, é despir a mente dos jovens formandos de tudo o que há de mais sublime e intelectualmente estimulante. Sair desta modorra analfabeta não será uma tarefa que possa realizar-se a breve trecho, pela simples razão de que não há, na sociedade presente, os estímulos necessários a uma renovação da alma nacional. Mas o certo é que, com ou sem associações burrificantes, os Camões, Eças e Camilos continuarão a ser uma referência para os poucos moicanos que ainda restam. Porque, ao inverso daqueles espantalhos que impõem programas de baixo alcance intelectual, nós sabemos que sem literatura não há alma que se eleve, e sem uma alma forte não há país que se afirme vigorosamente no concerto das nações.

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por João Pinto Bastos às 15:32

Quarta-feira, 06.11.13

Crónicas do planeta da bola (ii) - a tragédia Baggio

 

 "Baggio nooooooooo". É com este grito vívido e lancinante que o comentarista inglês da célebre final do Mundial de futebol de 1994 reage ao mítico  falhanço de Roby. Há imagens que perduram eternamente na nossa alma. Algumas ocultam-se, lenta e inexoravelmente, nos labirintos sombrios da nossa memória, quedando-se sepultadas no bafio da nossa existência. Outras, candida e suavemente, emergem de lés a lés, recordando-nos que o homem é um ser contingente, que falha aspirações e perde vontades. A imagem que doura esta posta foi porventura a minha "Estrada de Damasco" no gosto incondicional que adquiri pelo desporto rei. Recordo-me, como se fosse hoje, da impressão que este instantâneo futebolístico me provocou. Tinha então 7 anos. Naquela altura, na minha inocência pueril, fiquei encantado com o estilo elegantíssimo daquele jovem italiano, estrela da então poderosíssima "Vecchia Signora", que, com um tímido sorriso de craque, marcava e fazia marcar. Achava piada ao corte de cabelo desafiador de convenções e gostos. Gostava dos golos e da forma infantil como Roby os celebrava. Baggio foi isso tudo. Foi, acima de qualquer outra coisa, um ídolo. Não um ídolo de barro, daqueles que fazem tombar e erigir religiões, mas, sim, um ídolo de carne e osso, um precursor de tirocínios futebolísticos. Para quem começava a ver e a degustar a essência do futebol, uma imagem destas tinha o seu quê de trágico. E, no fundo, foi esse o grande legado de Baggio, um homem que nos ensinou, melhor do que qualquer outro praticante da modalidade, que a vida é feita de emoções díspares. Enquanto a perfeição relampeja suavemente na campina do triunfo, o assombro da perda descomunal vem sub-repticiamente trilhando o seu caminho. Não obstante o predomínio dessa dimensão trágica, Baggio teve uma carreira ímpar. Foi um dos maiores talentos da sua geração, e, com Rivera, o maior futebolista italiano de todos os tempos. Ganhou a, tão cobiçada por estes dias, Bola de Ouro, e foi considerado o melhor jogador do mundo em 1993. Deixou a sua marca em todos os clubes por onde passou, com especial destaque para a Juventus. Marcou em 3 mundiais seguidos, e reconduziu a sua selecção ao topo do futebol mundial. Ao invés de outros, Baggio não enjeitava as responsabilidades. Tanto é assim que nos grandes momentos levava sempre a água ao seu moinho. Dono de um carisma nato, incompatibilizou-se, amiúde, com muitos técnicos, e foi desprezado por outros tantos, mas a poesia do seu futebol jamais se perdeu. É esta a sina de quem atinge os píncaros, sem abandonar o ego às cretinices dos bajuladores. Maradona e Romário, para não ir mais longe, que o digam. Foi assim que Baggio encantou as multidões que o idolatravam. É certo que num segundo fatídico falhou clamorosamente, rompendo, com isso, o seu elã junto de muitos adeptos, sem embargo, mostrou a todos que não há ídolos divinos. Mostrou, também, que a técnica burilada claudica nos momentos mais inesperados. O homem é assim, imperfeito e limitado, e não há futebolista, por mais perfeito que seja, que escape a este diktat, nem mesmo Messi. Baggio falhou, sim, mas continuou o seu caminho, espalhando a classe imarcescível dos que não se dobram às fatalidades da vida. Obrigado por tudo, Roberto Baggio.

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por João Pinto Bastos às 14:03

Quarta-feira, 06.11.13

Harmonica


Frank vs Harmonica, Once Upon a Time in the West, Sergio Leone, 1968

A angústia, o medo, a vingança, a persistência, a coragem, e last but not the least, a constância na firmeza de ânimo. Esta cena é uma autêntica apoteose poética dos sentimentos mais intrínsecos e contraditórios do ser humano. Uma perfeição estética e formal absolutamente insuperável, em que o brilhantismo técnico de Leone e Morricone sobressai espectacularmente. Se algum dia quiserem escarafunchar até ao fundo a essência eminentemente parda do homem, vejam e apreciem esta cena. Está lá tudo.

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por João Pinto Bastos às 13:21

Sexta-feira, 01.11.13

A alegria do mal

Santo Agostinho, Confissões:

 "Aqueles pomos eram belos, mas não foram esses que a minha alma depravada apeteceu, pois tinha abundância doutros melhores. Colhi-os simplesmente para roubar. Tanto é assim que, depois de colhidos, os lancei fora, banqueteando-me só na iniquidade com cujo gozo me alegrara. Se algum dos frutos entrou em minha boca, foi o meu crime que lhes deu o sabor." 

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por João Pinto Bastos às 14:08


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