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Tudo o que ouvimos dizer que fizeste em Cafarnaum, fá-lo também aqui na tua terra". Acrescentou depois: "Em verdade vos digo, nenhum profeta é bem recebido na sua pátria". São Lucas, IV, 23-24
Há males que, infelizmente, para prejuízo dos nossos miserandos pecados, teimam em não desaparecer. Um dos males a que me refiro consiste, mais precisamente, no preconceito ignóbil que vastas camadas da população dedicam a tudo o que cheire a um arremedo de judaísmo. Preconceito esse, irracional e, as mais das vezes, totalmente infundado. Vem isto a propósito de uma conversa tida com um livreiro a respeito dos "judeus". Nessa ocasião, e dado o meu interesse - que não é, sublinhe-se, de hoje - pela cultura judaica, indaguei o dito livreiro acerca da sua disponibilidade em apresentar-me títulos literários relativos ao povo judaico. A resposta que me foi dada a ouvir deixou-me, tenho de confessar, completamente aturdido. Disse-me o livreiro em questão, com um sorriso sumamente sardónico, que a única obra que possuía relativamente a esse "povo nojento" era um livro acerca da Maçonaria, e que mesmo esse não valia, na sua rigorosíssima avaliação, "grande espingarda". Como podem constatar, numa só frase, este ilustríssimo concidadão foi capaz de expelir dois absurdos que, por ausência de uma educação devidamente ministrada, continuam a infestar as mentes tacanhas de muito populacho. Na minha resposta, tentei, em seguida, com muita paciência, note-se, explicar ao dito cujo que não, que judaísmo e Maçonaria não são, em rigor, a mesma coisa, que, não obstante alguns pontos de contacto muito ténues, não há qualquer ligação entre a ordem maçónica e a religião judaica, enfim, tentei explicar o óbvio, mostrando que a lógica dos "Protocolos dos Sábios do Sião" há muito que se esgotou, graças ao facto de as conspiracionices inventadas por muitos sábios de salão não resistirem aos menores choques com a realidade. É evidente que, atenta a ignorância larvar do pobre livreiro, o meu esforço foi ingloriamente baldado. E, em boa verdade, era inevitável que o fosse. É que, para todos os efeitos, parece que, em muitos portugueses, o espírito de 1496 e 1506 ainda continua, bastarda e horripilantemente, à solta. É pena.
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